sábado, 30 de junho de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº614)


Eu já estou habituado a que as mulheres não olhem para mim quando vou na rua. Mas até me sinto bom partido quando ando na rua com a minha miúda e outra mulher a olha dos pés à cabeça com ar de interesse.

Can you see its opposition


A felicidade é-me útil. A tristeza ainda mais. Esta raiva é que ainda não mostrou nenhuma vantagem em ser mantida. Tenho de ver se me livro dela de vez.

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº613)


A fazer "recuperação" de algumas coisas antigas neste blog para uma colectânea pessoal, descobri que este sítio costumava ter imensos comentários. E depois tentei ser um pouco menos parvo e comecei a escrever coisas mais sérias.

Chego à mesma conclusão de sempre - as pessoas gostam mais de mim quando sou palhaço.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº612)


Gosto de andar com headphones nos ouvidos mesmo que não esteja a ouvir música e tenha o iPod desligado. As pessoas tendem a incomodar menos e ao mesmo tempo dizem coisas que não diriam se não pensassem que não estou a ouvi-las.

Pensamentos Divergentes (nº302)


Não escrevi um único poema desde que te foste embora:
abro aqui a primeira das excepções
levada a cabo por tudo o que outrora ainda não perdi,
a laminada constante do vazio das emoções.
Porque uma vida não reflectida não merece ser vivida
e eu vejo o meu melhor reflexo em ti.

Realização de ausência


Não escrevi um único poema desde que te foste embora.

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Carta que todas as mulheres que me deixaram poderiam ter escrito


Sei que gostarias que eu me fosse lamentar de tudo o que aconteceu e viver com uma perda irreparável no coração de tamanha profundeza e eternidade que por vezes me esqueceria dela por fazer tão parte de mim. Sempre quiseste ser mais do que o pouco que na verdade és e como isso se mostrava impossível recorrias à mentira para que os outros, e principalmente eu, te víssemos como uma espécie de homem interessante e singular. E todo o tempo que eu quis passar ao teu lado e conhecer-te tu escondias-te por receio de eu ver o real e aperceber-me que tinha sido ludibriada. E não é como se os teus medos fossem infundados.

Mas ainda assim é verdade que te amei. Que te amei até que por um breve tempo apesar de perseguires nos teus sonhos diurnos aquelas raparigas bonitas, mais bonitas que eu, que querias obter para ti de forma a beberes da ilusão de ser de maior valor - sempre tiveste um ego pequeno e parasita. É verdade até que me senti feliz na tua presença apesar de seres um rapazinho mimado e confuso que não se sabia desenrascar nem sabia como tratar outra pessoa sem ser para usá-la para si próprio. E é também verdade que foi de vontade e por amor, ilusão e felicidade que te dei o meu corpo e o meu carinho apesar de em parte, e subtilmente, me forçares a tal. Tudo isso é verdade.

Só que eu acabei por usar os olhos para ver. E acabei por ganhar juízo. E não me sinto mal pelo que aconteceu. Quem amarrotou corações aqui foste tu.

Like a second skeleton


Ainda bem que durante o dia não sou aquela pessoa que é durante a noite. Não conseguiria lidar com tanta fome.

terça-feira, 26 de junho de 2012

"E livrai-nos da Kodak, Amém"


"Vaticano destituiu bispo que foi fotografado na praia com uma mulher"

Mas àqueles que se metem com putos é difícil que lhes aconteça seja o que for. Não compreendo estes gajos. Se calhar o problema é só a questão das fotografias - não tarda o Papa vem dizer que a Canon vai contra o cânon da igreja.

Saramago Jr.


Os muros perguntam que vais tu fazer, esta rua é sempre a mesma coisa com as viúvas tristes e os putos ranhosos, nem muros nem gente com um pingo de sentido de direcção, colados ao chão que os viu andar como que para algum lado, e tu andas pensando ser melhor que esses outros que tanto suspiram enquanto evitas explicar essas coisas feias que metes nas veias para estares perto de ti sem ter vontade de fugir.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº611)


Devo ser o gajo mais dependente e mal habituado de sempre porque 48 horas sem lábios para beijar parece-me tempo demais.

They will haunt you in slumber, the depths you have seen


Chega a ser ridículo o quão tenho de me manter ocupado de forma a cansar-me, de forma a estar entretido nesta fossa existencial. Esgotar-me para não ter tempo de parar e de chegar à realização de como isto está negro.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

5 razões pelas quais eu adoro beber whisky e por isso tenho de ter cuidado para não me tornar um alcoólico para poder continuar a beber whisky à vontade


  1. Gosto de ver como o líquido se tenta agarrar às paredes internas do copo. É uma espécie de metáfora visual para a minha vida, mas não sei ainda o que significa exactamente.
  2. Após alguns goles a garganta abraça-se a si própria. Não se cala, mas silencia-se o suficiente para me deixar ouvir a mim próprio e saber o que gostaria de poder dizer como gostaria de o dizer.
  3. Sinto-me mais próximo do resto do mundo. E por isso é quando escrevo melhor, ou pelo menos quando escrevo sobre aquilo que eu acho mais interessante.
  4. Um cigarro sabe sempre melhor durante ou depois de um whisky.
  5. No fim fica o calor nos lábios. Como se estivesse a beijar o Sol e a recordação permanecesse na pele da boca. Como o primeiro beijo.

Socorro!


"Passos diz que se for necessário, haverá mais austeridade"

Isto é como a gente queixar-se ao pasteleiro que os bolos dele sabem a merda e ele resolver o assunto recheando-os com merda a sério em vez de usar o substituto.

A a A


Atravessaste a sala como que só para dizer com a sola dos teus sapatos que a minha palavra não valia mais que a jura de um drogado em ressaca. Eu que prometia não me apaixonar - vis viliridades úteis para desencontros a hora marcada.
Assim me marcou no peito essa chapada de vestido leve, torcida à vontade das tuas coxas que me ignoravam a expansão dos cotovelos dos lábios. Sobejou na fome dos olhos a tua presença, inundou e verteu-me o impulso do coração praticado mas fora de uso.
Ama-me ou dá-me amor e, palavra de honra, jamais saberás do meu desejo por ti.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº610)


Há anos que a minha namorada me diz que é estranha a maneira como, sem qualquer tipo de esforço ou intenção, atraio para ao pé de mim desconhecidos bêbados e pessoas malucas ou instáveis, chegando a ficar preocupada quando sai comigo à rua.

Preocupa-me que isto seja tudo uma questão de darem a um iniciado caçula as boas vindas ao clube. Entretanto, há sempre a hipótese de pequenas aventuras.

domingo, 24 de junho de 2012

Mysery will you comfort me


Entreter-me-ei com a solidão.

Pensamentos Divergentes (nº301)


Esta noite "salvei" um bêbado que não era bêbado
porque
aliás
ele nem bebia.
Caiu-me em frente do carro,
boca em sangue e calças pelos joelhos,
sem se conseguir levantar sozinho.
Não encontrava as chaves de casa,
que foram perdidas à socapa para não acordar a esposa
- que isso sim era um sarilho.
Levei-o quase ao colo,
ele coxo e eu coxo por ele também,
para o deixar em paz
    com vidros a partir,
        a esposa a choramingar,
              e a ambulância a chegar.

A minha missão,
e a tua também se o aceitares
e à minha contradição,
é beber do mundo o que os bêbados não puderem mais.

sábado, 23 de junho de 2012

Overstimulated and undermotivated, you start a million things and never finish one of them


Um dia destes ainda conseguirei levar algo até ao fim.

Vasectomia moral


As pessoas em geral e os familiares em particular não percebem que eu diga que não sei se um dia terei filhos. Torce-se o nariz e diz-se que "daqui por uns anos" irei querer ter filhos - que é trocar alhos por bugalhos. Tenho bastante certeza que, daqui por uns anos, terei vontade de ter um ou mais catraios. O que não sei é se tenho meios para os ter.
Não falo de meios financeiros. Não sei se terei outro tipo de meios mais importantes que o dinheiro.

Farto-me de os ver. Pessoas que têm filhos como forma de tentar fortalecer uma relação amorosa que está a findar. Pessoas que têm filhos porque é o próximo passo a dar. Pessoas que têm filhos porque acham que é giro. Pessoas que têm filhos para aumentar a sua própria auto-estima. Pessoas que têm filhos porque querem ter filhos e querem ser pais e não porque querem trazer ao mundo e criar um indivíduo separado deles, com vontades e desejos diferentes do que aqueles que lhes são planeados.
Farto-me de os ver. Pessoas que têm filhos mas não têm estabilidade emocional ou psicológica para dar a uma criança aquilo que ela precisa para além do material. E infelizmente a maioria dos pais que andam por aí não são pais - são fábricas multiplicadoras de desespero.

Eu quererei ter filhos mas não sei se os terei. Porque tenho primeiro de me encarar como sendo digno da tarefa que é ser pai. E não sei se esse dia chegará.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº609)


Nota para mim mesmo: Se fores ao supermercado e comprares apenas farinha e Bushmills, vais receber olhares estranhos das pessoas.

Portugal olé


Quando nos morre alguém, quando o amor nos acaba, ou quando sucede outro tipo qualquer de catástrofe pessoal e o mundo continua como se não tivesse acabado, e as outras pessoas prosseguem nele normalmente sem saber que andam sobre afiados estilhaços das ruínas do que foi. Há uma estranheza na justaposição do nosso desespero com a sempre persistente e despreocupada existência de tudo o resto. E é mais ou menos isso que eu sinto neste momento.
O país está na merda e as coisas ainda vão piorar antes de começarem a melhorar. E há talvez um punhado de pessoas que tentam lutar realmente por um país melhor, mesmo que as suas acções sejam inúteis. Mas a selecção ganha jogos de futebol e por isso as pessoas vão festejar à rua e de repente Portugal é o maior. E toda a gente parece convencida que isto de ter milionários analfabetos a correr por um campo tem algum tipo de importância e algum tipo de impacto positivo para nós. Talvez seja porque eu nunca consegui gostar realmente de futebol e porque também nunca fui uma pessoa religiosa e portanto sou incapaz de me apegar fervorosamente a um conceito intangível sem impacto observável no mundo real. A verdade é que não consigo compreender. E portanto parece que eu é que estou a mais.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº608)


Toda a gente vê o mundo de forma diferente e cada pessoa está convencida que só ela é que vê a realidade pelo que ela é. E quase ninguém se apercebe sobre o ridículo da sua situação.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

It's so damn cliché that it's clever, it's so fucking false you think it's true


Só pode ficar para trás quem tenha mais que um destino à escolha.

Recapitulemos


Ia escrever um poema bonito qualquer sobre a minha inutilidade mas após a terceira tentativa de primeira quadra percebi que era inútil. Vamos ser crus.

Tenho 26 anos e nenhum talento real que possa usar na vida. Tirei um curso que não me serve para nada e hoje, só hoje, já nem sei se quereria que servisse. Perspectivas de futuro são nulas e o presente torna-se insuportavelmente enfadonho. 
Não ando a conseguir escrever como quero. Perdi os calos dos dedos por ter deixado de tocar. Desenhar neste momento deixa-me enjoado só de tentar. Ando demasiado desmotivado para me permitir tirar prazer de coisas que, neste momento, encaro como supérfluas. Porque ou não sou suficientemente bom em tudo aquilo que me dá prazer, ou tudo o que me dá prazer não tem relevância para conseguir fazer a minha vida.

E por isso agora, qualquer tipo de actividade artística que eu possa ter aqui neste blog ou lá fora no mundo parece-me ser algo pequeno, muito pequeno. Já não me chega. E sempre que, no passado, cheguei a este ponto essa insatisfação forçou-me a derrubar tudo para tentar construir algo melhor. Mas aparentemente não tenho mais revoluções internas para batalhar.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº607)


Andei uma porradona de anos na universidade e a única competência que adquiri foi não ter vergonha da lata que tenho.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Just enough to float


A nadar em inutilidade.

Não assistido


Aceitei não fazer nada por saber tudo o que já te tinham feito. Quase que me imploraste até eu conceder o teu pedido. Horas e dias de segredo para não mais te magoar porque a tua mágoa já era interminável. Dizias não ter cura, quando na verdade todos nós é que estávamos doentes e só tu vias o mundo real. A tua visão estendia-se até ao infinito - para trás e para frente - e daí a tua vontade de parar. E eu sabia que era inevitável. Ninguém poderia impedir que, mais cedo ou mais tarde, isso acontecesse. Ninguém te conhecia melhor que eu.
Não aguentavas mais. Querias-me para testemunha silenciosa. Porque se ninguém te visse a morrer era como se tivesses só desaparecido e tu querias era morrer. Querias partilhar o último e mais feliz momento da tua vida com alguém próximo. E eu, o teu melhor amigo, deixei-te morrer. Estive contigo. Fiz-te companhia. Vi como punias o teu próprio corpo, como já to tinham feito de muitas formas, numa teimosa zanga para ver qual desistia primeiro. E foste tu quem ganhou porque eu nada fiz. Fiquei em silêncio até mesmo quando o teu corpo embranquecia e a vida se esvaia das tuas veias. A última coisa que tu fizeste neste mundo foi agradecer-me. E eu não fechei os olhos, nem se quer desviei o olhar. Vi até ao fim, como pediste. Vi como o teu peito por uma última vez lutou para se erguer até ao céu e falhou. Deixei-te morrer como querias e nunca ninguém o soube.
Existe somente em mim o último bocado de ti neste mundo. Devolver-to-ei quando chegar a minha vez.

domingo, 17 de junho de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº606)


Já aprendi a lição mas falta-me a prática. Ainda não sei distinguir de forma precisa os momentos para erguer a voz dos momentos em que devo manter a boca fechada.

Pensamentos Divergentes (nº300)


Não cetim as pálpebras dos teus suspiros
rolos de segredos por outrora revelar
na câmara dos que passam sozinhos
uma melhor carta virá, virá, virar.

sábado, 16 de junho de 2012

O gajo agora começa a chular o blog


Nunca quis fazer este tipo de coisa no meu blog, mas não tenho grande coisa a perder. 

Se alguém simpático tiver informações de apartamentos T0 ou T1 baratinhos em Lisboa, de preferência perto do metro, agradecia um contactozinho ali para a minha caixa de e-mail.

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Waiting waiting waiting waiting


Por muito que eu queira, e por muito que o tente, nunca vou conseguir perceber essa maneira em que uma mulher se apaixona ou a sua forma de querer.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Mulósculo


Perguntei à tua chaleira se tinhas outro amor. É que as chaleiras são as primeiras a cantar quando as coisas aquecem.

Quem me dera ter braços e olhos que chegassem para dar todo o carinho que alguém possa precisar. Fica e verás que eu outrora fui polvo, mas deceparam-me os membros enquanto navegava rente ao solo do mar.
Mas ainda seria capaz de tocar o banjo, sentado numa rocha da praia para te tentar encantar. Eu e as minhas unhas de desespero enquanto as ondas sugam o teu nome da areia.

Perguntei à tua chaleira se tinhas outro amor. Maldita a tua mania de beber chá gelado.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº605)


Deixei de tentar afogar as minhas mágoas com álcool. Não sei se isto é sinal de eu estar a ficar mais maduro ou sinal de eu estar a ficar mais desinteressante.

It's just a little touch of fate, it'll be okay


Porque preciso de um pouco de optimismo no meio da tristeza, ando-me a tornar um perito em tristezoptimismo

Já sei, não sabemos para onde estamos a ir. Mas acho que vai ficar tudo bem. E se não ficar, vamos aproveitar o agora juntos enquanto esse tempo não chega. Afinal de contas, a mortalidade é isso mesmo.

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº604)


Nunca deixei de fumar ou de beber, mas há vícios que tento largar e que a minha vida fica melhor por isso. É o que se passa com os testes e jogos psicológicos que temos a mania de realizar uns com os outros - tudo é mais simples desde que comecei a fazer um esforço, mesmo que muitas vezes sem sucesso, para ser directo e largar esses artifícios. O problema esse continua a ser o método privilegiado por todos os outros. 

quarta-feira, 13 de junho de 2012

Masoquismo somatoforme


A única coisa que descobri ao esforçar-me por trabalhar o meu material para enviar para concursos e outros potenciais interessados, é que ler a minha própria poesia dá-me uma enorme e literal dor de cabeça.

At the start he couldn't find the heart to up and bear the fruit


Ando a fazer-me em nós para me tentar manter suficientemente ocupado para não pensar em como isto está tudo na merda.

terça-feira, 12 de junho de 2012

Monodiálogo


- ' Exactamente, o que é que tu queres de mim? ' . O repouso nocturno papagueia no seu ombro, recordando estrelas efémeras de negras abóbadas passadas, circunscritas num rosto raivoso pintado na mais bela das inúteis estátuas. Pergunta-lhe o vento assim, carregando as palavras como se suas. ' O tempo é só a percepção do desperdício dele mesmo ' pensa ele, e logo o esquece para não ter de se confrontar com o infinito tapete que se desenrola por baixo dos seus pés. É assim mesmo - uns dias matamo-nos para sobrevivermos a nós próprios; há que estrangular a verdade para estarmos vivos no dia seguinte de forma a podermos continuar a procurar pela verdade. Jazem no ar as pirâmides das palavras abortadas ao mar de aflição, como tantas vezes se faz na companhia de quem nos dói amar. É um comboio de amarguras, indo sabe-se lá para onde. Corta as paisagens e desaparece para sempre no horizonte. Há quem viva só a acenar a quem vai lá dentro.

Geração fim-de-alfabeto


Proponho-vos algo diferente. Proponho que sejamos carne para canhão. 

Já se disse tudo ou quase tudo o que se podia dizer sobre a situação económica do país e sobre a geração a que eu pertenço. Mas, por medo da ansiedade e maior desespero que isso pode suscitar, não queremos realçar o facto de que a denominada Geração Perdida o seja porque já não tem salvação.
A verdade é que o país não vai mudar amanhã. Nem depois de amanhã ou no dia a seguir a esse. Tampouco os seus habitantes ou a sua mentalidade. O sistema está viciado, o dinheiro não vai aparecer do nada, oportunidades de emprego não vão aparecer do nada e o tal do Sol não brilhará tão cedo. Torna-se evidente que a maioria de nós, como juventude, está condenada a ficar para trás, a ser uma casualidade de mais um evento histórico do nosso país. Seremos se não um futuro facto para ser considerado banalmente na mesa de jantar ou num café bebido de uma chávena de uma louça tão conformista como a que temos hoje em dia.
Proponho que nos deixemos de eufemismos. Quando sairmos à rua e quando escrevermos ou falarmos sobre a nossa condição, aceitemos aquilo que somos - uma geração mal usada e deitada fora. Somos só um vergonhoso elo de ligação entre duas melhores épocas que calharam fora do nosso tempo. Desistiram de nós antes de nos deixarem desistirmos de nós mesmos e por isso somos carne para canhão. Toda a gente já o sabe e quem não o quer ver precisa de se confrontar com o poder das palavras certas e com a realidade de uma década de vidas que irão para a sarjeta por motivos que nunca estiveram sob o seu controlo. Carne para canhão.

Costumo suceder nos meus esforços para terminar estes textos de uma forma um pouco mais optimista. Desta vez não tenho tal coisa para oferecer.

Cartas para Alice


O Alexandre tem um génio a viver-lhe nas calças e de vez em quando deixa-o escrever.


Cartas para Alice é um pequeno livro, ilustrado pela Mariana a Miserável, de cartas de amor e erotismo endereçadas a uma bela mulher desse nome. Li a minha cópia a noite passada e para quem tenha interesse na minha opinião está muito bom, e para além de ser engraçado é picante. Recomenda-se.

Para quem quiser conhecer as aventuras, amores e seguidores da Alice, aceitam-se encomendas através de alechandreferreira@gmail.com

You don't know what you like


Perdoe-me tudo aquilo que eu não soube agarrar porque a verdade é que eu não sei agarrar. E eu até teria mais vergonha de ainda não saber quem sou, mas o que se passa é que andamos todos até à morte a tentar definir-nos. A diferença é que apenas eu pareço mostrar saber que apesar de tudo sou só mais um caso.

O voyeur parasita



Com tempo para matar, vários cafés à escolha, vou para aqueles mais pobres ou atarefados; a perversão assim mo comanda. Talvez por nunca me ter sentido como um de vós, o meu maior entretenimento é ver as personagens do teatro da vida e os pequenos dramas diários que, embora diversos e banais, perdem-se numa paisagem de sentido mais vasto como borrões-flor de um Van Gogh. As interacções frias entre o casal dono do café, os sábios zé-ninguéns que à volta do bagaço resolvem em argumentação apenas os problemas do Estado, o solitário estranho que parece não ter para onde ir (não sou só eu), ou a discussão aparentemente final entre dois jovens namorados.
É que eu não tenho perfil para ter vida própria. E muitas vezes parece-me ser coisa que nem interesse tem. Por isso é que quando era miúdo lia da forma que lia - eu nunca quis realmente viver, o que eu queria era viver de forma vicariante. Viver através da vida dos outros sempre teve mais apelo. E agora, quando vou à rua é para ver o espectáculo sem ter de fazer parte dele. Por isso é que as estórias que tenho para contar nunca são minhas. Roubei-as de vocês.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

domingo, 10 de junho de 2012

Pensamentos Divergentes (nº299)


cataratas de papel
no teu diário pessoal
e todas as tuas tristezas registadas
para lembrar que há um dia por ser escrito
em que se quebre a tendência das canetas que deixam de escrever

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº603)


As pessoas são como os móveis do Ikea. Quando sobra um parafuso de fora, mais tarde ou mais cedo desmorona-se tudo e quem fica na merda és tu.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Conversa Conjugal (nº32)

A dar uns beijinhos na cama, TV ligada

Ela - Epá, ficou tanta luz de repente.
Eu (sorriso sacana) - Hm...
Ela - ... "Hm" o quê?
Eu - A excitação sexual dilata as pupilas; as pupilas dilatam entra mais luz para a retina.
Ela - Epá, odeio que tu saibas essas coisas!

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Conversa Conjugal (nº31)

A minha namorada a fechar a bagageira do carro depois de guardarmos as compras após uma ligeira desavença

Ela - Cuidado com a cabeça.
Eu - Se estivesse interessado em ter cuidado com a cabeça não tinha começado a namorar contigo.
Ela - ... Que querido!

All this time you're talking No


Faz anos que a minha namorada me pede para eu deixar de fumar - tantos como aqueles em que nos conhecemos. O que ela ainda não percebe totalmente é que para mim a vida é sempre de extremos e de outra forma intolerável. As coisas ora são tão aborrecidas que só lhes posso sobreviver com a ajuda de um cigarro, ou tão interessantes que merecem um tributo e ser acompanhadas por um cigarro.

Não progressivo


Perdoa-me este texto, mas sabes que as palavras fazem ninho na minha boca e recusam-se a voar como as asas das suas intenções as deveriam impelir. É que há sonetos e relâmpagos, todos os dias. E são porque passas por mim. E o teu sorriso, seja de simpatia ou de pena, carrega-me a bateria dos sentidos - não fossem os meus movimentos desconexos e descoordenados da motivação recta que é alcançar-te e poderia mostrar-te o que tenho em mim. Mas aqui, de onde te vejo, dentro de mim, mal posso chegar até ti. Nem as minhas pernas funcionam para correr atrás de ti ou te beijar. Porque a natureza da minha carne foi outra e eu nada posso fazer quanto a isso. Estou preso neste corpo e preso à tua adorável e irresistível aura. Sou assim o fio tenso entre dois pontos amovíveis e eu já só desejava quebrar de não te poder ter para mim, de não poder se quer ter-te a olhar para mim como olharás para outros, por uma só vez que fosse.
Queria que o soubesses. Nada mais espero que o teu conhecimento da nossa condição. Serei sempre teu. Distante, mas sempre teu.

terça-feira, 5 de junho de 2012

Coisas Que Um Gajo Coiso (nº602)


Eu na verdade devia agradecer a todas as raparigas que alguma vez me deram uma tampa. É que na altura eu não vi o valor de me habituar à rejeição; mas agora que tento arranjar emprego e vingar nisto da escrita, essa experiência prévia ajuda-me a atenuar as feridas.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Pensamentos Divergentes (nº298)


MMMmmmMMMMUUUUUUUUuu

enquanto os outros bichos se contentam em pastar
a vaca,
com seus olhos no infinito,
sonha com o que ele pode guardar.

o que ela queria era correr nos verdes prados,
à pressa
mas a bom-gosto,
sem ser atazanada por torpes gados.

MMMMMMMmmmUUUUUUuuuuuuuuu

podia ser melhor que qualquer cavalo.
encorpada
e sem medos,
para quem a montasse era um regalo

mas o seu destino é o de morrer
dar leite
e ser cortada aos bocados.
a relva que pisa é só para ela comer.


E é tudo o que ela tem.


What's the day, what you doing


Mesmo desempregado, e por estar desempregado, as Segundas-Feiras são sempre a pior parte.

Pensamentos Divergentes (nº297) - A Velha


assim que entra pela porta
acordeões de tristeza agoniam na sua dobra
(a velha, torta,
de melindrosas curvas mais parece uma cobra)

e diz assim para quem a ouça dentro do estabelecimento:
"É um curto e é para despachar
que hoje já não estou mais para me arreliar".
e vê-se que a velha...
não é velha...
- é um jumento.

ainda de pé,
o jegue ofídio recebe o seu café
num semicírculo exímio que não faz se não
que o monte de merda arraste as tetas defuntas pelo chão
enquanto segura a colher de chá no seu apêndice limpa-rabo
para um diabético trago arrastado pelos conspurcados agigantados anéis
que a asna senhora usa para enfeitar os seus dedos de infelizes vernizes bordéis

à velha torta,
com a espinha a incliná-la para debaixo da terra,
- já não há quem não sonhe com ela morta.
mas mesmo quando podre custa afundar um navio se o navio for de guerra

domingo, 3 de junho de 2012

Carta aos fantasmas


Perguntas-me se eu não quero ir beber um café. Meter a conversa em dia e conviver como nos tempos de antigamente; que tens saudades e há tempos que não nos vemos. Como se ainda fossemos amigos. Como se tivesse existido apenas uma incompatibilidade de horários por parte de ambos e não um desencontro amoroso em que um de nós ficou, na altura, mais ou menos a perder. E eu sei (e desconfio que tu também o sabes) que é tudo uma tentativa de reconciliação - não comigo mas com as imagens que tens de quem foste e de quem és. Fazendo-te a vontade, eu não seria se não uma ferramenta para ti; para te sentires melhor com as escolhas que fizeste, que todos nós fazemos. Parecendo que não, eu compreendo - não és o primeiro espectro que me contacta do Além. Chega uma altura em que sentimos a tentação de nos agarrarmos a alguém do passado para fazer sentido da nossa existência. Mas a diferença entre nós é que eu não adio os meus lutos. Tentei agarrar-te quando te senti a morrer de mim. E quando senti que querias morrer de mim tive de te deixar ir e seguir com a minha vida. E na minha vida existe quem eu quero e quem me quis - não cometi esses tropeções casuais que agora consideras momentaneamente poderem ter sido erros. Por isso não me venhas assombrar, que eu ainda vivo.

sábado, 2 de junho de 2012

Pensamentos Divergentes (nº296)

Para o movimento

É certo que com a mão
também há sedução
mas prazer sem igual
é o da língua não-gestual

Valsa


Não posso continuar a fingir que tudo o que fazes não é uma lesta labareda que me acaricia o coração, um ruflar de asas que usa a ponta das penas para fazer cócegas a todos os perdões que teria de te dar por me acordares o corpo deste sono em que me encontro desde que aprendi a atar os sapatos e levantei o olhar das suas solas para o resto do mundo. Fico preso no medo de começar a falar, de começar a contar os modos em que reabilitas as navalhas ocas do meu passado por medo de perder o folgo e morrer antes de lançar a última palavra - caso tu a quisesses ouvir. E eu sei que parece falso quando alguém se torna numa anémona de elogios, mas o mar em que tu me encontras é maior do que eu e anseia correr em oposto para o rio que o faz nascer.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Pensamentos Divergentes (nº295)


Os teus olhos
dois frigoríficos a controlo remoto
com a capacidade de esfriar à distância o que quer que lhes calhasse na mira.

E sempre na sua mira
estava eu.
Eu, como que encarnações de um espiritualista manco
que comeu a sua perna para provar que pode acompanhar um outro alguém
mesmo que a pé-coxinho
jogando à macaca por estes labirintos
à procura de calor humano.

E eu sei que escrevia coisas tristes
que escrevia coisas que afastavam
como ainda o faço.
E assustava os meus pais,
sempre preocupados,
Isso não são coisas que uma criança deva pensar.
Porque vocês fogem do desconhecido como vosso maior inimigo
e eu sempre quis fazer do desconhecido um amigo,
sentá-lo à mesma comigo
dar-lhe do meu vinho, comer do seu pão
Conhecer os folhos recônditos em mim
e que existem em ti também
para me conhecer a mim e a ti melhor
para que algo nos aproxime mais
mesmo que só na minha imaginação.

Mas eu desejava ainda mais que cada um dos meus osso fosse um instrumento
para que quando eu tivesse os meus ataques epilépticos
de raiva, frustração e amor contidos,
fizessem música de tal forma alta e assustadora
que tivesses vontade de me agarrar pela beleza da cacofonia
E o único impedimento fosse o medo de te aproximares
e que o teu corpo começasse a estremecer comigo também

E por isso envios estas palavras que eu tenho,
estas palavras que são as únicas que sei ter,
lançadas para o vazio como astronautas desesperados
procurando terra habitável sabendo que nunca mais voltarão a casa.
E quantos deles não morrem abandonados no espaço sideral.

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